Todo fim de ano, milhares de correspondências endereçadas a Papai Noel chegam às unidades dos Correios. São cartinhas repletas de desenhos, palavras carinhosas e muitos erros de português — a grafia original foi mantida nos trechos transcritos nesta reportagem — em que os pequenos contam um pouco sobre quem são e como vivem, em histórias de fazer rir ou partir o coração. Eles pedem carrinhos, bonecas, patins, bicicletas, computadores, material escolar e cestas básicas, presentes que, já sabem, seus pais não terão condição de lhes dar. Ainda assim, as crianças não perdem a esperança de obtê-los. Para isso, dependem da boa vontade de voluntários dispostos a “adotar” seus pedidos e conseguir o que desejam. Neste ano, o programa Papai Noel dos Correios, encerrado na sexta-feira passada (17), recebeu mais de 200000 mensagens. Após uma triagem inicial, em que foram descartadas as que não tinham remetente, as mandadas por adultos ou as repetidas, sobreviveram 110000. Em mesas decoradas com motivos natalinos, dispostas nas centrais dos Correios, os interessados em participar da iniciativa escolheram a quais cartas iriam atender. Qualquer um podia chegar, ler, comover-se e ajudar. A postagem dos presentes é gratuita. Metade dos remetentes ganha o que deseja — 54000 felizardos na edição deste ano. Desses, dez foram surpreendidos por VEJA SÃO PAULO, que convidou personalidades paulistanas para realizar o sonho dos meninos e meninas.
Primeira bicicleta
"Eu queria tanto uma bicicleta muito bonita sem rodinhas e se você quiser que você pode mandar por correio muito obrigada"
Alan, 10 anos
Primeira bicicleta
"Eu queria tanto uma bicicleta muito bonita sem rodinhas e se você quiser que você pode mandar por correio muito obrigada"
Alan, 10 anos
"Nunca duvide dos seus sonhos.” Foi com essas palavras que a apresentadora Eliana entregou o presente de Alan do Nascimento. Quando escreveu sua carta ao Papai Noel, esse menino de 10 anos pediu uma bicicleta bem bonita e sem rodinhas. “É que já sou bem grande”, diz do alto de seu 1,37 metro de altura. Morador de uma viela em Guarulhos, ele vive numa casa sem reboco com os pais e duas irmãs. Bem-educado, tem o hábito de colocar as mãos na boca quando boceja e sempre abre a porta para os outros. Queria ter nascido no Japão só para saber falar japonês. Quando crescer, deseja ser professor de ciências. Entre seus passatempos preferidos estão jogar futebol e ler os gibis da Turma da Mônica. “Mas gosto mesmo é de bicicleta. Pena que nunca tive uma.” Ao chegar aos estúdios do SBT, ficou desconfiado de que participaria do programa da Eliana. A expectativa deu lugar à frustração quando entrou no camarim da apresentadora. Num jogo de cena, ela fingiu que toda aquela operação era para lhe dar um panetone. Visivelmente transtornado e com os olhos vermelhos, Alan agradeceu o presente meio que a contragosto. Fosse um filme de Natal, este seria o anticlímax. O final feliz só ocorreu quando Eliana tirou de dentro do armário uma bicicleta preta com um grande laço vermelho. Aí, sim, Alan chorou de verdade. “As pessoas me dizem que o Papai Noel não existe. Mas eu sei que ele existe, sim.”
Veja São Paulo
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